´Me disseram que a matéria foi comprada. Mas não acredito nisso´, diz médico
No último dia 15, o médico Lissandro Barbosa, enviou um email para a redação do Jornal Bahia Online, contestando boa parte do conteúdo da entrevista concedida pelo diretor do Hospital Geral Luiz Viana Filho, Cláudio Moura Costa, quando este revelou a sua versão a respeito da falta de médicos e do não cumprimento dos plantões por boa parte deles, enquanto a população sofre do lado de fora - e dentro também - do maior hospital público da região.
Doutor Lissandro começa fazendo algumas explicações. Lembra que ganha mal, que já fez plantão de graça "para ajudar" e lembrou que se submeteu a trabalhar em três plantões durante o carnaval "por um preço" que terminou não sendo honrado pela direção do hospital. Em seguida, o medico ataca sem sustentar o que diz: "até me foi dito que não adiantaria escrever pro senhor, porque a matéria teria sido comprada. Mas não acredito nisso."
Obviamente que este tipo de declaração não nos constrange. Doutor Lissandro não conhece a nossa história.
Depois de feita a entrevista com o doutor Cláudio Moura Costa, podem ter a certeza de que dormimos todos estes dias na mais absoluta paz de espírito.
Diferentemente do médico, não nos "submetemos" a fazer jornalismo. Fazemos por obrigação, por missão, por respeito à coletividade.
Em resposta a este email, fizemos uma proposta ao doutor Lissandro. Que ele nos concedesse uma entrevista. Seria a oportunidade de ele esclarecer algumas situações vivenciadas no hospital.
Infelizmente, não tivemos mais respostas. Esperamos até hoje, minutos antes de escrever este editorial.
Então vamos lá.
No email enviado para o JBO, o médico Lissandro Barbosa revela o principal motivo de não ter médicos no Hospital Geral: "A resposta é simples. O salário que ele, e apenas ele quer pagar, é o menor salário do Brasil". Em seguida o médico faz uma declaração, para nós, estarrecedora: "Por que receber um salário pra ficar na emergência do principal hospital da nossa região, se podemos ficar em um hospital do interior por um valor maior e tudo que for grave encaminhar pro regional?"
O médico também faz, em seu email, alguns esclarecimentos a respeito da entrevista de Moura Costa. Veja, todos os questionamentos - e nossos respectivos comentários -, abaixo:
1. Médico recebendo estando em outro estado:
Lissandro - O profissional é um anestesista e se chama Ricardo. Entregou seu pedido de exoneração em fevereiro desse ano. Além disso pediu a outro colega que não quer ser citado a substituí-lo nos plantões. Ou seja, o plantão não ficou descoberto e quem recebeu trabalhou por isso. A culpa é toda de Dr. Claudio que não encaminhou o pedido de exoneração para a SESAB e está usando o nome de alguém com má fé.
Questionamento do JBO - Como assim? Outro colega no lugar? Não deveria ser ele se ele estava na cidade trabalhando? As informações do diretor do Hospital Geral são de que, desde janeiro, o médico já residia em outro estado e outro médico o substituia na surdina. O Setor de Recursos Humanos entrou em contato com ele, que chegou a pensar em pedir licença sem vencimento mas optou, depois, pela demissão. Lembramos aqui que em nenhum momento o doutor Cláudio identificou o profissional faltoso, o que não caracteriza má fé.
2. Quem não quiser que peça demissão
Lissandro - Caro Sr. Maurício… o primeiro médico a pedir demissão foi o que Dr. Claudio denunciou por trabalhar sem receber. Em fevereiro ainda. Em março, quatro anestesistas pediram demissão do vínculo da cooperativa. Quatro cirurgiões pediram demissão de 9 vínculos de 12 horas por semana que eram responsáveis, pela cooperativa. Um anestesista pediu redução de carga horária pelo estado. Três clínicos, responsáveis por 7 plantões de 12 horas por semana, pediram demissão dos seus vínculos. três pediatras pediram redução de carga horária. Agora em abril, mais um anestesista pediu demissão do vínculo da cooperativa, e dois cirurgiões pediram exoneração do estado. Será que todos esses médicos recebiam sem trabalhar? Até nos vínculos estaduais? Se tantos médicos recebiam sem trabalhar, me explique porque antes a escala estava completa e agora faltam médicos?
Maurício - O questionamento a ser feito é outro. A escala de antes era a prevista pela direção? Ou a construída e acordada pelos próprios médicos plantonistas. A população necessitada encontrava todos os médicos escalados para os plantões? O fato de agora não ter, a direção responsabiliza à uma ação velada dos médicos em esvaziar a determinação da direção em tê-los rigorosamente cumprindo o horário estabelecido nas escalas. Chega a ser preocupante o número de médicos que se apresentam como "doentes" e impossibilitados de comparecer ao trabalho. Dia cinco, por exemplo, o senhor apresentou atestado. No seu caso, esperamos que já esteja 100 por cento recuperado. Quanto ao pedindo de demissão dos médicos, entendemos que agiram corretamente. Quanto não se há condições de trabalho, nem respeito ao exercício da profissão, é melhor pedir pra sair e seguir novos caminhos.
3. Que não aceita acordos, que a carga horária tem que ser cumprida.
Lissandro - Um cirurgião de Itabuna, com certa influência política no estado, disse que iria pedir demissão. Assim, a direção entrou em contato com ele e agora o mesmo chega toda terça-feira às 8 horas e sai as 15. Trabalha 7 horas, mas recebe 12. Com anuência do diretor!!! O que tudo isso causa? E por que os cirurgiões e os ortopedistas são os que mais saíram? Porque os clínicos e os pediatras são contratados por CLT. Enquanto os cirurgiões e ortopedistas são contratados por cooperativa. o salário de CLT acaba sendo quase o dobro do salário da cooperativa, quando inserimos nele os valores das leis trabalhistas. Assim sendo, os ortopedistas e cirurgiões preferem sair e brigar por melhores salários.
Maurício - O que vale para um tem que valer para todos. É preciso que a direção se posicione, cobre ou aja com este médico com a mesma energia e cobrança com que age com os demais, caso seja verdadeira a denúncia. Aliás, denúncia que deve ser rigorosamente apurada. Quanto ao valor recebido mensalmente pelos profissionais, repetimos, é melhor os insatisfeitos sairem do que se transformarem em faltosos ou substitutos de colegas que também deveriam estar em atividade, atendendo o sofrimento dos que mais precisam de ajuda médica.
Lissandro - O hospital hoje está completamente ilegal. Ele não segue a resolução 1.490, do Conselho Federal de Medicina.
Maurício - O médico refere-se à resolução que determina a presença de outros profissionais médicos em intervenções no Centro Cirúrgico, dispodo de mais recursos humanos e técnicos mínimos satisfatórios para a segurança e eficácia de cirurgias. A intenção é de que tenha mais profissionais habilitados durante as cirurgias como forma de proteção ao paciente. Alguns médicos, vamos identificá-los aqui como LB, PS e IS estão deixando os pacientes internados no Hospital Geral sem fazer cirurgia alegando que não podem sair da emergência para operá-los. Antes da medida da direção em cobrar a presença dnos plantões a que estão escalados, eles não eram tão rigorosos assim com o cumprimento da resolução e realizavam frequentemente cirurgias programadas.
O médico Lissandro Barbosa encerra o seu email reconhecendo que nos finais de semana faltam cirurgiões no Hospital Geral. "Não quero que isso aconteça, mas se o próximo final de semana o senhor acidentar e precisar de um cirurgião, Ilhéus não terá cirurgião pra lhe atender. Durante a semana os cirurgiões e ortopedistas estão trabalhando em número menor que o determinado pelo conselho", afirma. De acordo com o médico, o Conselho Regional de Medicina e o Ministério do Trabalho já receberam comunicado de que os profissionais médicos não irão contra as normas do Conselho Federal de Medicina "só por que o diretor do hospital resolveu abrir guerra aos médicos". E encerra: "quem perde com isso é a população".
De fato, a população está perdendo com esta guerra o que de mais valiosa pode ter.
Em alguns casos, a propria vida.
E isso - pelo menos para nós -, doutor Lissandro, não tem dinheiro que pague, não tem preço. Pode ter certeza!
Para ler a denúncia feita pelo diretor do Hospital Geral, numa entrevista exclusiva concedida ao Jornal Bahia Online, basta clicar aqui.